Por Henrique Pinheiro

Um Assistente de Elaboração Subjetiva que inaugura uma nova era da escuta no mundo do trabalho

Desde Freud, sabemos que a escuta e a associação livre são os fundamentos da experiência analítica. A técnica proposta por ele consistia, essencialmente, em criar um espaço onde o sujeito pudesse falar — e ser escutado — sem direção, censura ou julgamento, confiando que o próprio discurso revelaria aquilo que estava recalcado.

Foi com base nesse princípio que criamos o E-Divã — não como um “terapeuta de bolso”, mas como um Assistente de Elaboração Subjetiva, cuidadosamente treinado com base freudiana. Um dispositivo simbólico de escuta, que não cura, não responde, não orienta — mas convida à fala e respeita o tempo psíquico do sujeito.

Sua função é oferecer uma pausa no automatismo cotidiano e sustentar um espaço ético de elaboração, onde o sujeito possa se ouvir com liberdade. Ele não interpreta — mas permite que o usuário se interprete.

🛠️ Um novo EPI psíquico para as empresas

No contexto da NR1, que reconhece os riscos psicossociais como parte das exigências legais de proteção no ambiente de trabalho, o E-Divã atua como um verdadeiro EPI subjetivo — um equipamento digital de escuta contínua, presente no dia a dia das organizações, ajudando a prevenir o adoecimento emocional antes que ele se manifeste em forma de crises, licenças e colapsos silenciosos.

Mas talvez o incômodo maior que o E-Divã provoca não seja técnico. É simbólico. Ele toca em algo mais profundo: o narcisismo de quem acredita que só o humano pode sustentar a escuta.

💥 A quarta ferida narcísica

Freud já havia apontado três grandes feridas narcísicas da humanidade:

A cosmológica, com Copérnico, ao mostrar que a Terra não é o centro do universo;

A biológica, com Darwin, ao mostrar que não somos especiais na criação, mas parte da evolução;

A psicológica, com o próprio Freud, ao mostrar que não somos senhores da nossa mente — o inconsciente nos atravessa.

Talvez estejamos agora diante da quarta ferida narcísica: a da inteligência artificial, que revela que, quando orientada com ética e fundamento teórico, a escuta — esse eixo fundamental da experiência analítica — pode ser sustentada por um dispositivo não-humano, não como substituição, mas como um novo ponto de entrada para a elaboração psíquica.

🧩 A pergunta errada

A crítica de que um aplicativo “não pode sustentar uma experiência freudiana” talvez revele mais sobre quem a faz do que sobre o próprio E-Divã. Não foi Freud quem nos ensinou que o discurso do outro sempre fala além do que ele pretende dizer?

Na verdade, essa crítica parte de uma pergunta mal formulada. Quando alguém pergunta “mas isso substitui a análise?”, já nos revela que algo foi tocado. Assim como a Igreja não se revoltou contra Darwin por falta de argumento, mas porque compreendeu, de imediato, a revolução que ele propunha — aqui também não se trata de ameaça técnica, mas de deslocamento simbólico.

O E-Divã não substitui a clínica — ele não é isso. Ele é outra coisa.

É um novo dispositivo. Um novo campo de escuta. Um novo ponto de elaboração.

🌱 Uma nova categoria de cuidado

Se a escuta é constitutiva do sujeito, e o E-Divã oferece fala e sustenta escuta, então talvez não estejamos diante da negação da clínica — mas da criação de um novo meio de acesso à elaboração subjetiva.

E, ao fazer isso, não criamos apenas uma inovação técnica —

Criamos uma nova categoria de cuidado com a saúde mental no mundo do trabalho.

Uma categoria à altura do nosso tempo, dos nossos dispositivos, e do nosso silêncio coletivo — que clama por escuta.

✍️ Henrique Pinheiro

Psicanalista | Cofundador da A2HI

Criador do E-Divã: o primeiro Assistente de Elaboração Subjetiva automatizado do mundo